Em várias comunidades brasileiras onde alunos têm dificuldades de acesso à internet, o aprender virou apenas folhas de tarefas entregues pela escola. Esses papéis são devolvidos, por vezes, sem resposta, ou nem isso. Muitos desapareceram quando o desemprego e a insegurança alimentar se impuseram.
Entre as crianças que a reportagem encontrou, várias foram forçadas ao trabalho por essa maior vulnerabilidade fora da escola. Manuela*, filha de catadores no Rio Grande do Sul, estava entregando as atividades em branco e os professores souberam que ela catava latinhas nas ruas para não ficar sozinha em casa. A menina tímida de 12 anos não conseguia calcular, ler ou escrever bem.
Na tentativa de manter os laços com a aluna, a escola marcou um dia para ela realizar as atividades com o auxílio dos professores do programa Sala de Recursos. Foi um dos poucos momentos em que ela não precisou catar latinhas.
Grande parte das histórias que constam no mapa do especial Sem Recreio vieram à tona por meio de professores e diretores que estão preocupados com suas salas reduzindo de 40 para até 5 alunos nas plataformas online. “Tem turma que só 3 ou 4 apareceram, alguns só marcam presença, não entregam tarefas, não participam da aula”, afirmou a professora de Sociologia Romã Duarte Neptune, do Rio de Janeiro.
Via grupos de WhatsApp com estudantes ou mesmo no momento de entrega da cesta básica mensal, educadores tomam conhecimento daqueles que estão trabalhando precocemente, entre outros motivos que os roubaram do ensino.
“Há alunos que o pai perdeu o emprego. Uma menina saiu de casa e estava morando com a amiga. Tem uma que foi para o interior (do estado). Outra montou uma loja virtual de tênis”, elencou o professor de Português Eduardo Ezequiel, de Belo Horizonte, que começou o último ano dando aulas para 90 estudantes e terminou com 20.