No início, era uma brincadeira: “Eu via os peões no manejo com o gado, era uma admiração. Eu queria ser igual a eles”, lembra Arnaldo Joaquim dos Santos, que começou a trabalhar aos 13 anos. Aos 15, tornou-se ajudante de veterinário e passou a viajar: São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. “Tinha vez que passava três dias fora de casa, sem ir pra escola”.
Acabou repetindo dois anos por faltas. O veterinário que o empregava se aposentou e indicou Arnaldo para outra empresa, mas ele perdeu a vaga por não ter diploma. Foi esse impedimento que lhe abriu os olhos, nas palavras dele. Decidiu retornar aos estudos.
Atualmente, aos 21, cursa o 2° ano do Ensino Médio Técnico em Agropecuária, em Belo Jardim, interior de Pernambuco. Lá, tinha alimentação inclusa, recebia bolsa e estava em projetos de extensão. Mas, com essas atividades suspensas em decorrência da pandemia, precisou arrumar trabalho em uma fazenda da região.
As aulas voltaram no modo online e ele iniciou uma dupla jornada. Durante três meses em uma rotina de 14 horas, perdeu 25 kg e enfrentou um início de depressão. Deixou o emprego e optou pelos estudos novamente: “Eu não desisti, mesmo atrasado, eu tô indo”.
Muitos ‘Arnaldos’ conseguem mudar o curso da própria vida, mas não há meritocracia. “Para os casos serem bem sucedidos as pessoas precisam de rede de apoio, sozinho é muito difícil”, conclui Tânia Dornellas.
**Nome fictício para proteger a identidade da entrevistada