Não é raro ver crianças e adolescentes fazendo serviço de “frete” na feira livre de São Bento do Una, no agreste pernambucano. Em fila, entre as barracas, sentados em seus carrinhos de mão, eles aguardam que alguém solicite para carregar os alimentos. Cobram entre R$ 3 e R$ 10 a depender da distância percorrida até a residência do cliente. A reportagem do Lição de Casa conheceu Bruno*, Felipe*, Rafael* e Vicente*, de idades entre 10 e 13 anos, trabalhando em tempos de pandemia.
Bruno*, de 13 anos, era um dos mais calmos e centrados. Começou a fazer frete durante a pandemia. Nunca havia trabalhado. Não acompanha as aulas e não tem contato com nenhum professor. Felipe*, de 11 anos, era o menor e mais magrinho do grupo. Não tem celular nem internet na casa dele. Usa o dinheiro que ganha na feira para jogar em uma lan house. “Eu via todos os meus amigos fazendo frete, aí eu fiquei com vontade de fazer também”. Ganhou a carroça da tia para trabalhar.
Rafael*, de 12 anos, o mais agitado, variava entre a carência e a raiva. Carregava sacola na feira desde os 10 anos. Dizia que aos 6 já queria começar a trabalhar, mas a mãe não deixou por ele ser muito “fraco” ainda. Havia conseguido juntar R$ 15 naquele dia. “Toda vez, deixo R$ 10 guardado. O resto, dou R$ 20 a minha mãe e fico com R$ 5”, calculou, se confundindo todo.
Vicente*, de 10 anos, o mais novinho, estava ali, mas não tinha noção de dinheiro nem de tempo. Não sabia dizer desde quando trabalhava, nem mesmo há quantas horas estava na feira naquele dia. Ele estava satisfeito com o que tinha apurado até o momento: R$ 7, fora os R$ 8 que gastou mais cedo com um pastel, um enroladinho e um refrigerante.